PEIXES-BOI CORREM RISCO NO RECIFE E DEVEM VOLTAR PARA ALAGOAS
Animais que foram reabilitados e reintroduzidos em Alagoas estão sendo molestados pela população de Pernambuco.
Por Thayanne Magalhães
Resgatar, reabilitar e devolver o peixe-boi para a natureza não tem sido uma tarefa fácil para os técnicos do Programa Peixe-Boi, que têm sede fixa em Porto de Pedras, no litoral Norte de Alagoas. O local é referência no trabalho de preservação da espécie ameaçada de extinção.
Porém, em locais onde o peixe-boi não aparecia há muitos anos, a população costuma molestar o animal e dificultar o trabalho de reintrodução no seu habitat natural, como vem acontecendo na Bacia do Rio Capibaribe, no Recife.
População não tem colaborado com reintrodução dos animais.
Há cerca de dois meses, dois peixes-boi que foram reabilitadas em Porto de Pedras estão “morando” na região e, apesar de adaptados ao ambiente, a população local não tem colaborado com o processo de reintrodução dos animais ao seu ambiente natural.
Apesar de ser uma região de ocorrência histórica, a espécie não aparecia naquelas águas há muitos anos.
Os animais que estão no Recife são Clara, reintroduzida em Porto de Pedras em março passado, e Natália, reintroduzida em Abril também desse ano.
“Agora a nossa equipe está tentando encontrar esses animais para remarca-los com transmissores que nos dão a localização do bicho via satélite, e então o monitoramento presencial voltará a ser realizado. Em seguida a equipe de técnicos poderá planejar uma logística para a captura”, explica o pesquisador e colaborador eventual do Programa Peixe-Boi, Pitágoras Viana.
De acordo com o pesquisador, os equipamentos foram perdidos no Recife e pelo menos um deles foi retirado por um popular.
“Esses cintos que prendem o equipamento na cauda do animal possuem m ponto de quebra para resguardar a vida do peixe-boi, caso ele fique preso embaixo d’água. Porém, uma pessoa confirmou que retirou o transmissor por achar que estava machucando o bicho”.
Apesar de adaptados, fatores como a interação da população e a poluição do Rio Capibaribe, fizeram com que a equipe decidisse trazer os animais de volta para o litoral de Alagoas, onde o Programa Peixe-Boi é conhecido e as pessoas têm mais consciência em relação à preservação da espécie.
“Os animais podem acabar sendo domesticados com essa interação humana e isso é ruim para a sua sobrevivência. Nosso trabalho é garantir que o animal possa readquirir seu comportamento natural, se esquivando do homem, se alimentando sozinho e buscando seu parceiro para se reproduzir”, explica Pitágoras Viana.
Para que os peixes-boi permanecessem em Recife teria que ser realizado um longo trabalho de conscientização da população que mora próximo ao Rio Capibaribe, principalmente as mais desfavorecidas, que têm pouco acesso a esse tipo de informação.
ANIMAIS EM RISCO
Mas, diante dos últimos acontecimentos, a equipe do Programa acredita que os animais correm sérios riscos se permanecerem na região do Capibaribe.
O site do jornal Diário de Pernambuco publicou no domingo (19) que um dos animais quase foi capturado e abatido por populares que o avistaram às margens do Rio Capibaribe. O abate da espécie é crime ambiental com pena de três anos de detenção, sem direito a fiança.
Segundo informações do site, o animal escapou por conta do empenho de pessoas que protegeram o bicho.
Pesquisador
“Peixes-boi estarão mais seguros no litoral de Alagoas”
O pesquisador Pitágoras Viana explica que o litoral de Alagoas tem sido o local mais seguro para que os peixes-boi definam como seu sítio de fidelidade.
“Aqui no Estado as pessoas estão mais conscientes da importância da preservação do animal principalmente pela presença do Programa Peixe-boi em Porto de Pedras, que já atua há muitos anos com trabalhos de educação ambiental”.
Esse sítio de fidelidade, segundo explicou Pitágoras Viana, é um local onde os animais definem como moradia pelo acesso à alimentação, água doce e local para repouso.
OUTRO CASO
Em maio o peixe-boi Assú, também reabilitado e reintroduzido no meio ambiente pelos técnicos do Programa Peixe-Boi, teve que ser resgatado na Bahia. O animal ficou doente depois de ingerir lixo e óleo de embarcações motorizadas.
Por estar muito debilitado, o peixe-boi teve que ser resgatado e trazido de volta para o cativeiro, em Porto de Pedras, onde deve permanecer pelo resto da vida.
“Assú foi resgatado no ano 2000 na Praia de Aracati, no litoral do Ceará. Ele foi transferido para o recinto em Porto de Pedras, onde passou por reabilitação e foi solto pela última vez em 2013. Dessa vez não vamos mais correr o risco de reintroduzi-lo no meio ambiente. A poluição é um grande risco para a sua vida”, lamentou o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Iran Normande, na época.
Por conta de intervenção humana, o peixe-boi não está seguro no seu ambiente natural. O trabalho de monitoramento é essencial para a conservação da espécie.