AVANÇO DAS CIDADES NAS ÁREAS DE MATA GERA ACIDENTES COM ANIMAIS
Entidade de Botucatu (SP) recebe animais atropelados na região. Anualmente, 475 milhões de animais morrem atropelados nas rodovias do país.
As mortes de animais nas rodovias da região estão cada vez mais comuns e a explicação dos especialistas é que nós estamos cada vez mais invadindo os espaços que são dos bichos. Muitos desses animais silvestres que sofrem acidentes nas rodovias são acolhidos no Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Silvestres (Cempas) de Botucatu (SP), assim como animais que sofrem maus-tratos.
A estimativa do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (Cbee) é que, anualmente, 475 milhões de animais morrem atropelados nas rodovias em todo o Brasil, mais de duas vezes a população humana do país.
Com a construção de pontes, estradas, aeroportos, desmatamento de áreas de preservação, os animais são obrigados a procurar alimento mais longe e com isso eles acabam nas áreas urbanas. Mas a falta de cuidados necessários aos animais, como cercar sítios e fazendas para evitar que animais como gados acabem nas rodovias, acabam contribuindo para o aumento de mortes.
O especialista Alex Bager explica o que fazer para evitar esse tipo de acidente. "A regra básica é comunicar as autoridades. Busque a Polícia Ambiental, o zoológico. Nunca tente capturar esses animais sozinhos, pois quando assustados eles se sentem acuados e podem revidar", explica.
Para colaborar com a sobrevivência desses animais, as passagens de fauna construídas pela concessionária que administra o corredor Raposo Tavares são uma forma. São túneis que passam sob a rodovia de pontos em pontos. As margens também são cercadas em pontos de mata nativa para guiar os animais para as passagens.
"A melhor proposta é que nós tivéssemos grandes áreas, que esses animais não precisassem buscar áreas urbanas para sobreviver. Quando não acontece isso, temos que gerar a conexão entre os diferentes fragmentos para que eles não tenham que vir para regiões de árvores próximas da cidade. Com isso favoreceria o deslocamento desses animais de um fragmento de mata para outro. A estratégia seria plantar árvores ou criar passagens subterrâneas quando estamos falando de rodovia", afirma Bager.
Outra forma de auxílio é o Sistema Urubu, um aplicativo gratuito para celular que permite a qualquer interessado enviar fotos de animais machucados e mortos nas rodovias e contribuir para a formação do maior banco de dados sobre atropelamentos da fauna silvestre no Brasil.
Resgate
Os animais resgatados após atropelamento ou maus-tratos na região Centro-Oeste Paulista muitas vezes são levados ao Cempas em Botucatu. Mais de 200 animais passam por tratamento no local e quem cuida são oito jovens veterinários que prestam residência no Cempas, segundo o coordenador do centro, Carlos Teixeira. "O Cempas tem grande capacidade de internamento e dá condições de receber os animais de toda a comunidade."
O trabalho com animais selvagens é feito desde 1993. As aves são a maioria, muitas encontradas em beiras de estradas ou até em áreas rurais da região com escoriações devido a algum acidente. O mais novo morador do Cempas é um tucano, que chegou há poucos dias após ser encontrado em uma fazenda, no rio bonito, com fratura exposta numa das asas. "Ele chegou extremamente agitado, com muita dor por ser uma fratura exposta. Foi necessário fazer uma sedação para avaliar a fratura", explica o residente Gustavo Marques.
A ave deve passar por cirurgia e, se recuperar a capacidade de vôo, voltará para a natureza. Senão, deve ter um destino parecido com o de outros tucanos, que chegaram ao Cempas ainda filhotes e foram criados em cativeiro. Agora, a secretaria do meio-ambiente definiu que as aves ficarão expostas no parque das aves, em Foz do Iguaçu.
Muitos animais chegam aqui ao cempas ainda filhotes e machucados. Eles são cuidados em cativeiros, recebendo alimentação apropriada. Mas então surge uma dificuldade, que é a hora de devolvê-los à natureza, como uma onça que foi criada desde filhote em cativeiro. Ela chegou ao centro há três anos, foi criada de forma humanizada e não desenvolveu o instinto de caça. Segundo Teixeira por isso é muito perigoso soltá-la na natureza.
"A hora que ela passar por um período de fome e crise, ela vai procurar um ser humano, que a alimentou a vida toda. É um risco muito grande fazer a soltura de um grande felino, tem que ser feito um trabalho de adaptação."